Último outono.Não muito alegre, mas nem tão triste, apenas um outono diferente.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Page Rank


O Page Rank é importante para um site?
Sumiram com meu PageRank,
Que bonito.
Favor me devolver.
Devolveram, assim trá melhor.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

O Pai Pobre.


Diz a Bíblia que há tempo para tudo. Tempo para trabalhar, tempo para brincar tempo para sorrir. E há tempo também para relembrar as coisas boas da vida. O dinheiro corria solto. Serraria apitando de hora em hora, máquinas trabalhando. Parecia trem de ferro resfolegando fui...fui... fui...piuiíííi. As toras de madeira rolando.Ouvia-se um estrondo cada vez que uma árvore caía. Mamãe dizia:- Ela chora antes de cair. Escuta o gemido da dor que ela sente quando serrada pela moto-serra. – Ahn...ahn.... Bang! Caiu.
Os caminhões entravam e saiam carregados de madeira. Carregados de porcos para os frigoríficos, carregados de bois para o matadouro. E o dinheiro entrando.
Papai gritava lá do outro lado: - Recolham o café em coco que está no terreirão porque as nuvens estão escurecendo e pode chover. Café riado perde o valor. Descarreguem os sacos de café limpo que chegou de caminhão prá pode ensacar e pesar de acordo com a encomenda. – Olha o milho chegando Ramiro. Descarrega ele, para depois tratar dos porcos. O caminhão do frigorífico está chegando. Entrega o café lá menino. Entrega o da tulha verde.
Papai olhava o terreirão cheio de ouro verde, a tulha cheia de ouro preto, o cofre cheio de ouro amarelo e sorria feliz.
Estava tudo sobre controle. Café secando, café pronto para beneficiar, café pronto para ser vendido. Ouro em pó chegando. Papai explicava para a mamãe:- Desta vez vamos embamburrar. A colheita foi muito boa vai dar para guardar dinheiro e comprar carro novo. Um carrão importado. A serraria não deu problema, o metro cúbico de árvore está subindo. Os porcos engordaram na safra de milho que foi feita no Maroto. E o preço do leite sustenta a nossa família porque o dinheiro cai todo dia e todo fim de mês. O preço do boi gordo garante a nossa vida futura e a serraria sustenta os quatro filhos internos no Colégio Cristo Rei e as meninas internas no Colégio Imaculada Conceição. O estudo dos nossos filhos, a serraria garante, principalmente agora que o Colégio Cristo Rei resolveu aumentar a construção e o colégio das meninas, as irmãs estão construindo um novo. Ali dá para eu pagar com taco, e com o madeiramento que eles vão precisar.
De dia papai e mamãe trabalhavam e á noite entre tapas e beijos, eles se amavam porque os filhos foram aumentando. Nove filhos todos vivos.
De repente a notícia fria e seca, abrupta.
A peste suína matou a porcada. A aftosa manquitolou o gado. Tudo morrendo de repente. Abriram-se valetas de cem metros de comprimento por cinco de largura. Porcos e bois foram jogados ás centenas lá no meio de óleo queimado e por cima, fogo. A fogueira ardeu dias e dias sem parar. Cheiro de carne podre e queimada no ar. Estômago embrulhado, dinheiro queimado.
Novilhas e novilhos chegando para serem queimados porque a aftosa acabou com o gado. A peste dizimou a porcada e a aftosa dos que sobraram deixou o gado manquitola.
O frio chegou. Levou a peste, trouxe a geada.
Papai não dormiu a noite inteira. Andava de lá pra cá e de cá pra lá.
Quando o dia amanheceu o sol brilhou em esplendor total. Como só o sol sabe brilhar no azul do céu. A geada queimou o cafezal inteiro.
Papai chegou á porta do meu quarto, com as duas mãos espalmadas sobre o rosto e falou: - O Cafezal queimou. Está da cor de chocolate. Papai sentou-se á beira da minha cama e chorou.
Há tempo para tudo papai, assim diz a Bíblia. Tempo de plantar, tempo de colher, tempo de rir e tempo de chorar.
Lembre-se da voz do povo. Café é como a doença tuberculose, quando o doente sabe que vai morrer, ele aguça a sua sexualidade para continuar alguém vivo no lugar dele. Lembre-se que daqui a pouco todos nós estaremos cantando outra vez a música de Carlos Paraná;
“Meu cafezal em flor, branca flor do meu cafezal!
Meu cafezal em flor, branca flor do meu cafezal!
Ai menina meu amor, branca flor do cafezal”


Crônica de Neide de Azevedo Lima, Colunista do diário do Iguaçu, Jornal de Chapeco SC.

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